quarta-feira, 27 de julho de 2011

84 anos bem vividos

Não consigo me imaginar com 84 anos. Estarei lúcida? Forte e sorridente? Simpática com todos? Brincalhona?Escrevendo poesias? Vendendo poesias? Não sei...essa minha geração é diferente, mas acomodada, mais ranzinza.
Mas tudo que escrevi acima é o que meu pai vive hoje. Gente, como pode alguém nunca acordar de mal-humor?Como alguém pode ser alegre e otimista o tempo todo?
Pois meu pai consegue...deve ser pelos anos vividos, pelas experiências e dissabores que já viveu, e hoje sabe que algumas situações não valem a pena tirar um sorriso, perder uma noite de sono.
Dia 30/07 meu pai faz 84 anos. Lúcido, muito alegre, anda, anda e anda muito por esse Uberlândia afora.
Vende suas poesias, maneira digna e inteligente de ganhar a vida, e com elas faz muitas amizades, ganha muitos sorrisos e também para massagear o ego dele, muitos elogios em relação a letra bonita.
Cresci vendo esse sorriso e sempre querendo dar o melhor para as filhas. Sua infância difícil, sua juventude solitária, sua luta na escola para mostrar que era capaz de entrar direto na quinta série sem ao menos escrever direito e fazer uma simples continha de somar. Mas ele conseguiu, viu que precisava lutar e crescer, pois não tinha ninguém a sua volta, ninguém para ajudá-lo.
Ouvir sua história me dá um nó na garganta e seguro para não chorar, querendo ouvir até o final.
Morou na fazenda por muitos anos, trabalho duro e pesado, e quando surgiu a oportunidade de ir pra cidade grande não pensou duas vezes. Mas tudo sozinho, sem família e amigos por perto. Mas sua luta foi tanta que meu pai venceu, conseguiu ser bancário, construir uma família e ser exemplo de homem.
Se orgulha em dizer que nunca bebeu, nunca fumou, não tem rugas porque vive sorrindo..rsrs.
Muitas vezes perco a paciência com suas conversas repetitivas, típicas da idade, e depois me arrependo desses momentos de ignorância.
Pai Benê, vovô Benê, o careca, o poeta.....
Com sua maneira tentou dar a melhor educação pras filhas. Acho que fez o máximo, nós filhas que tivemos nossos momentos de "anos rebeldes". Mas fez de tudo para manter a família unida.
Muita coisa que aprendi com ele quero repassar a Maria Eduarda.
Ele brinca comigo dizendo que gostaria muito de ver a Maria Eduarda com 15 anos...ele estará com 98 anos. Confesso que meu coração dói mas sua disposição e alegria me faz acreditar nisso.
Me lembro uma vez de voltar da biblioteca com a Eliana, e encontramos meu pai vendendo picolé, empurrando aqueles carrinhos, num dia muito forte de sol. Corri atrás, nós pegamos um picolé e quando cheguei em casa chorei muito. Não pelo trabalho que ele estava exercendo, mas por aquilo que já foi um dia e que naquele dia e até hoje, não dão o valor necessário ao um homem experiente, mas também idoso.
Homem de fé.
Quando o Clóvis foi pedir minha mão em casamento pra ele, na hora ele topou..rsrs..(podia ter feito um drama né..rs), mas ele foi firme e convincente dizendo ao Clóvis que o que ele tem de mais precioso na vida é Jesus e queria muito que o Clóvis conhecesse esse Jesus, que mudou a vida dele.
Chorei demais!!!!

Pai, obrigada por me transmitir valores que fazem parte do meu carater. Perdão por não entender seus conselhos sábios,  perdão por não rir das suas palhaçadas.
Mas com todos os meus erros e acertos, te amo muito.

Beijos
Fer :)

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