sábado, 25 de dezembro de 2010

Pai

O Natal não foi como eu descrevi no texto anterior, não foi como eu queria, não foi como eu sonhei o primeiro Natal da Maria Eduarda.
Vendo meu pai totalmente dependente das filhas, médicos, enfermeiros e ao mesmo tempo não aceitando a situação em que se encontra dói meu coração.
Um pai que me carregou nos ombros para ir a igreja, um pai que me deu uma bicicleta rosa com cestinha, um pai que me acordava todos os dias para ir trabalhar e quando eu levantava sempre tinha um pacotinho de pão-de-queijo embaixo do meu travesseiro, um pai que ia me buscar no ponto de onibus as 23:00 pra eu não voltar sozinha, um pai que sempre fazia acrósticos no meu aniversário....um pai que sempre cuidou de mim.
Chegou minha vez.
Minha vez de retribuir cada atenção, cada gesto, cada carinho. Mesmo na minha impaciência, e pedindo sabedoria para ajudá-lo. Não quero ficar com remorso, mesmo sacrificando meu marido e minha princesa que fica sem mamar por algumas horas, faço questão de estar perto dele.
Teimosia deveria ser o sobrenome do meu pai, e essa teimosia por se achar alto suficiente, com saúde de ferro, não o fez buscar ajuda no tempo certo.
Agora vejo meu paizinho voltando a ser criança e a "eterna criança" aqui tem que dar ordens e ser enérgica quando precisa.
Mas meu coração se amolece ao olhar aquelas rugas e manchas de sol em sua pele. Sua conversa repetitiva da copa de 1950, onde ele me diz os nomes de todos os jogadores. As cartas que recebeu do presidente Lula, do prefeito Odelmo Leão, das poesias que foi publicada no livro, nas cartinhas de aniversário que tem que entregar. Quantas vezes essa conversa me irritou, eu o deixei falando sozinho ou simplesmente na minha ignorância não o dei atenção, não olhei em seus olhos.
Mesmo com sua dificuldade, fez questão de comprar presentes pra toda família e ainda fazer seus versos com rima para o amigo invisível.
Que o papai do céu olhe pro meu pai, o ajude, o cure, de discernimento as filhas e quero aproveitar cada momento e fazer um carinho naquela careca famosa, e rir com ele das suas piadas, pois mesmo doente, faz questão de sorrir e fazer os outros sorrirem...marca registrada do meu pai.
Amo muito.

Pai!
Pode ser que daqui a algum tempo
Haja tempo prá gente ser mais
Muito mais que dois grandes amigos
Pai e filho talvez...

Pai!
Pode ser que daí você sinta
Qualquer coisa entre
Esses vinte ou trinta
Longos anos em busca de paz...

Pai!
Pode crer, eu tô bem
Eu vou indo
Tô tentando, vivendo e pedindo
Com loucura prá você renascer...

Pai!
Eu não faço questão de ser tudo
Só não quero e não vou ficar mudo
Prá falar de amor
Prá você...

Pai!
Senta aqui que o jantar tá na mesa
Fala um pouco tua voz tá tão presa
Nos ensine esse jogo da vida
Onde a vida só paga prá ver...

Pai!
Me perdoa essa insegurança
Que eu não sou mais
Aquela criança
Que um dia morrendo de medo
Nos teus braços você fez segredo
Nos teus passos você foi mais eu...

Pai!
Eu cresci e não houve outro jeito
Quero só recostar no teu peito
Prá pedir prá você ir lá em casa
E brincar de vovô com meu filho
No tapete da sala de estar
Ah! Ah! Ah!...

Pai!
Você foi meu herói meu bandido
Hoje é mais
Muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém tá sozinho
Você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz
Pai! Paz!...





Um comentário:

  1. Fer... que lindo Natal você teve, sabia? Um Natal do jeito que Jesus faria, sendo consolo e acolhimento pro seu pai. Conte com minhas orações na certeza de que "tudo" concorre para o bem dos que amam a Deus. Recebe meu abraço apertado de amor!
    PS: Estamos juntas, eu cuidado da mamis e você do papis. =)

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